terça-feira, 29 de setembro de 2009

Julgue-se a Si Mesmo



Não se julga um livro pela capa, dizem.

Deve-se julgar o livro pelo seu conteúdo.

E, para tanto, é preciso que se leia o livro.

Se isso é verdade sobre livros.

Por que não o será sobre pessoas?

Não devíamos julgar as pessoas pelo que elas aparentam;

Ou pelo que elas dizem de si mesmas;

Ou ainda pelo que elas apregoam;

Mas pelo que elas são de fato.

Não devemos olhar a aparência, mas o coração.

Daí é preciso conhecê-las.

E, para conhecê-las tem-se que andar bem próximo delas..

Como saber se uma pessoa está sendo sincera em suas ações?

Como saber se suas intenções são puras?

Como saber se o que as pessoas expõem de si mesmas corresponde à verdade do que realmente são e pensam?

Certa vez escrevi um texto cujo tema foi: Crise de referência

Escrevi o referido texto por três motivos sem saber dá-los uma ordem estrutural:

Ouvi uma pessoa citar um autor e palestrante como seu “guru” sem ao menos conhecê-lo.

Perguntei-me: Como alguém pode ter uma pessoa como referencial sem ao menos conhecer essa pessoa?

Então pensei: O referencial não está na pessoa, mas no que ela diz ou escreve.

Então, pude perceber que há uma crise de referencias na sociedade, pois as pessoas estão criando seus próprios referenciais imaginários, ou surreais.

Ou seja: Não importa quem você na verdade seja, o que importa é que o que você diz está legal e eu gosto.

Continuei pensando...

Então devemos contentar-nos com palavras e não com atos?

Mas não se imita o que as pessoas falam e/ou escrevem, se imita o que as pessoas fazem.

Isso não desfaz a verdade que se possa ter falado e/ou escrito, mas certamente, o que fala ou escreve não dá atestado de integridade e legitimidade referencial a ninguém.

Jesus disse para os seus discípulos sobre os fariseus: “Façam o que eles falam, mas não façam o que eles fazem”.

Ou seja, até falam coisas certas, mas não são dignos de serem imitados.

Isso me levou a outras considerações.

Infelizmente (e não sei se o que se deu comigo acontece com outras pessoas ou somente comigo)...

Vieram à minha mente pessoas que escreviam e falavam um monte, mas que tinham atitudes bem antagônicas ao que falavam e escreviam.

Lembrei-me de pessoas que demonstram através de falas e textos terem um coração terno, mas que têm atitudes duras e sem misericórdia;

Lembrei-me de pessoas que falam de altruísmo, mas que são egoístas e ambiciosas;

Lembrei-me de pessoas que falam de amor e aceitação, mas que só buscam interesses próprios e tratam com rudeza e conspiração maligna;

Lembrei-me de pessoas que se queixam do glamour de uma vida capitalista, mas que vivem com altos salários e compram sem dor na consciência em lojas de grife em nada baratas;

Lembrei-me de pessoas que acusam outras de se beneficiarem de povos miseráveis, mas que fazem o mesmo, embora de modo diferente;

Lembrei-me de gente que é doce na palavra e na escrita, mas insensível e ardilosa pelas costas.

Lembrei-me de pessoas, as quais não apenas li o que escreveram ou falaram, mas com as quais andei por muitos anos.

Vi muita coisa feia e muita atitude a não ser imitada em pessoas que estão sendo amadas e exaltadas como referenciais pelo que falam e/ou escrevem.

E nisso encontrei-me em meio a uma crise de referenciais.

Mas, não parei por aí.

Então cheguei ao ponto nevrálgico do meu momento reflexivo sobre a tal crise de referência:

E eu?

E como estou nessa crise de referência?

Sou o que aparento ser?

Busco viver em conformidade com o que escrevo e/ou falo?

Trato com as pessoas da mesma forma como gostaria que elas me tratassem?

Estaria eu sendo relacionado por alguém como o que importa é o que falo e/ou escrevo e não com o que faço e como vivo?

Será que as palavras têm mais importância e força do que os atos?

Como me vêem as pessoas que estão mais perto de mim?

Sou eu apenas “vitima” nessa crise de referência ou sou também um “vitimador”?

O que me adiantaria textos bem rebuscados e sermões bem elaborados, se não corresponderem aos atos que pratico?

Percebi que julgar-me é tarefa mais indesejada e árdua que julgar os outros.

Percebi também que é mais fácil chegar a uma conclusão de mim mesmo do que chegar à conclusões sobre os outros.

Entendi, então, que há verdade no fato eu ter sofrido muitas decepções com pessoas com as quais andei bem perto, mas entendi, também, que deve ser verdade que eu tenha decepcionado muitas pessoas que andaram bem perto de mim.

É certo que uma verdade não anula a outra da mesma forma que um erro não justifica outro...

Mas, certo mesmo é que muito antes e acima de qualquer julgamento que compreendamos estar no nosso direito de fazer sobre qualquer pessoa, e embora possa haver alguma verdade em tal julgamento...

Devemos julgar a nós mesmos.

E, de preferência, com o mesmo rigor que julgaríamos e/ou temos julgado os outros,

Pois, com a medida com que julgarmos nos julgarão a nós.

Por: Paulo R. P. Cunha

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